Monólogo A Dois

sexta-feira, junho 18, 2004

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE BOLOS

Existe uma identidade única em cada alimento e considero que se eles se pudessem pronunciar, muitos estariam francamente insultados e indignados com algumas das confusões feitas por esse mundo fora. Aliás, acho que hoje uma Madalena sussurrou-me qualquer coisa... mas não tenho a certeza.
Aqui reside o cerne da questão: há que distinguir os bolos dos pastéis e dos doces. Eu sei que existem híbridos, junções destas categorias, e nesse caso determina-se através da parte dominante, por exemplo, um Mil Folhas tem açucar por cima e creme de ovo no meio, que são ambos doces, porém, a massa folhada predomina, logo deve ser considerado um bolo.
Portanto, pastéis de bacalhau, croquettes, chamuças e outros, devem ser considerados como pastéis, ou mais amplamente, como salgados. O sabor é também um dos critérios de distnção.
Os ovos moles e fios de ovos devem ser considerados como doces, assim como a tarte de natas que de bolo tem muito pouco (este é um daqueles casos ambíguos entre o doce e bolo).
De resto, sejam eles de massa folhada, massa fofa, errr... massa normal (queques, bolo de arroz, madalenas, etc..) são considerados bolos.

O queque acompanha-me há anos. Lembro-me de ser um pequeno "chavalo", que mal conseguia aguentar o "produto intestinal" até ao local apropriado para a "descarga" e já a minha mãe me dava deste sublime alimento. Por vezes, tem pedaços de amêndoa por cima, por vezes com sabor a laranja, mas sempre, se possível, com as "maminhas" bem tostadas. Aqui está a beleza do queque: as suas maminhas. Podem-se comer uma a uma, num ritual de prazer incomparável e impossível de encontrar noutro bolo ou noutro alimento sequer. Cada uma independente mas todas ligadas entre si, oriundas da mesma fonte. O queque não é mais que a metáfora para toda a existência humana.
Porém, mesmo quando o queque não me agrada, quando tem passas em cima por exemplo, facilmente se retira esse cancro e pode-se apreciar o seu sabor e forma sem qualquer perturbação ou desprimor. Grandes ou pequenos, com a "cabeça" mais ou menos achatada, mais ou menos cozida, o queque, é lindo. Não enjoa e "escorrega" bem com o café. O queque é divino.

Abordando agora o Pastel de Nata. Este é um caso que pode induzir em erro os mais distraídos. Como todos sabemos o Pastel de Nata, não é, apesar do nome, um pastel. É sim um bolo. Porém, é também um doce, pois a quantidade reduzida de massa que possui, e quando são de Belém tem bastante pouca, pode ser considerado um doce, principalmente se só se comer o creme com uma colher. Pois bem, se repararem o Pastel de Nata não é mais que a representação da Santa Trindade, o número 3, a perfeição, Deus: é pastel de nome, bolo de definição, e doce em potência. Três.

Aquela Madalena disse-me mesmo qualquer coisa enquanto a comia... mas o que terá sido?!...
|| Æmitis @ 18:25 ...:::
Sim, é verdade. Não tenho absolutamente nada para dizer.
|| Æmitis @ 13:58 ...:::