Monólogo A Dois

sábado, abril 01, 2006

ESTAVA-SE MESMO A VER

Um estudo feito pelo MAD para o MAD anuncia hoje, em primeira mão, que não existe qualquer relação entre a música de Madonna e a homossexualidade masculina. O estudo reforça que, apesar de 98 por cento dos homens que gostam da música da artista serem assumidamente gays, só através do mau gosto e dos maus tratos infantis se pode explicar tanto uma como outra tendências.

Assim como a desta notícia cheia de preconceito.
|| Filipe Marques @ 02:10 ...:::

quarta-feira, julho 27, 2005

– Eu bem sei que não sou médico, nem tenho estudos nem nada, e que a fisionomia suína é bastante semelhante à dos humanos, mas não me parece que tenha sido necessário transplantar-me um braço de um porco! – disse O Aníbal, nome que obrigava todos os motoristas de táxi do Cais do Sodré a utilizarem quando lhe dirigiam a palavra.
O Doutor, nome que utilizava mas não de forma imperativa, era um homem novo, um pouco calvo e peludo no resto do corpo. Era de tal forma farta a pilosidade que lhe cobria o corpo que ao despir-se não sentia qualquer diferença de temperatura. A bata era incapaz de dissimular os extensos fios negros e ondulados, muitíssimo bem amaciados, que abundavam nos seus braços. A roupa fazia-lhe uma comichão constante e quando estava em casa andava completamente nu, sem que, no entanto, se visse qualquer pedaço de pele, pendente ou não.
A meio da discussão entre O Doutor e O Aníbal ouve-se um ritmado bater na janela do consultório. O Doutor abre-a e recebe de um pombo a sua nota de liquidação do I.R.S., trazendo-lhe a paz de espírito que lha faltara durante as últimas semanas. O Pombo tinha a receber alguns euros, uns trocados apenas, mas tudo estava finalmente regularizado.
Por sua vez, num equilíbrio quase cruel, O I.R.S. deixava para trás dois filhos e duas ex-amantes anteriores ao seu casamento homossexual. Duas pessoas assistiram ao enterro do I.R.S. no Cemitério de Benfica e uma delas era o coveiro. Foi um dia de chuva que poucos esqueceram, incluindo aqueles que não se lembram dele.
A discussão prossegue e O Doutor tenta acalmar O Aníbal segurando-lhe na pata e prescrevendo-lhe calmantes e cd’s dos Kelly Family. Lá fora, a chuva continuava a cair, cada vez com maior intensidade. Simultaneamente, ao mesmo ritmo das gotas de água, caíam apresentadoras do boletim meteorológico com o cabelo com demasiada laca. Centenas de pessoas juntaram-se na principal rotunda da cidade, sem violar o código da estrada, para mirarem este surreal cenário. Tinham bastante laca mesmo.
Enquanto todos estavam distraídos, O Porco coxo suicida-se.
Afinal, ainda era quarta-feira.
|| Æmitis @ 18:55 ...:::
A voz dele é a do Clint Eastwood, por empréstimo. A partir daqui, ele é o narrador e o ele que ele diz é outra pessoa totalmente diferente, embora com semelhanças várias.


Era precisamente meio-dia e o sol ainda não tinha aparecido, nem o sacana. As ruas estavam desertas e duas latas de milho doce rebolavam com o vento e assustavam os gatos. As latas estavam vazias, claro; não estava assim tanto vento que conseguisse fazer rebolar duas latas de milho doce cheias e fechadas. Cada uma pesa cerca de 300 gramas. Se a estrada fosse inclinada e, se por acaso, as latas estivessem sido postas de lado, podiam deslizar, mas não era o caso.
O local é este e hora também, será que se acobardou? Decerto que já acabou a luta greco-romana de sardinhas paralíticas com menos de 42 gramas; nada o detém no seu vil covil. A vingança é um pato que se come frio, como no restaurante chinês. E eu odeio chineses.
Vejo algo ao longe, o sacana! Eu disse:
– Sacana! Estás atrasado.
– Eu sei. Tropecei em duas latas de milho, tive que ir fazer um curativo ao joelho.
Este tipo de distracções são típicas de reles inergúmenos como ele. Que raio quer dizer inergúmenos? Parece legumes ou então algo que não tem gumes. E não faz lá muito sentido estar a dizê-lo... Mas não me posso distrair agora; um movimento em falso, uma hesitação ou um deslize são suficientes, num piscar de olhos fora de tempo perde-se um duelo.
– Estás preparado para encontrar a tua sepultura? – disse com um olhar ameaçador que contornava a armação dos óculos.
– Como assim?
Mais um dos seus truques. Novato. Consigo discerni-los à distância, com as suas artimanhas universitárias e artifícios estagiários. Metem-me nojo. Mas hoje não terei clemência.
Num movimento só, agarro-o pelo pescoço com o braço direito, exercendo exactamente a quantidade de força necessária para o sufocar sem lhe destruir traqueia. Tiro a minha Parker Duofold® do bolso da camisa e encosto-a ao seu olho esquerdo.
– Vês? Consegues ver isto?
Ele tremia incontrolavelmente enquanto tentava libertar-se, agarrando-me com as duas mãos o braço que lhe apertava a garganta. Não conseguia responder, apenas saiam uns gargarejos imperceptíveis, talvez já ensanguentados.
– Lembra-te bem deste meu braço e da dor que sentes na garganta na próxima vez que usares uma sórdida esferográfica bic® no escritório.
Soltei-o. Ele ficou prostrado no chão tossindo e chorando convulsivamente.
– Bem vindo ao mundo da Contabilidade Administrativa. – disse-lhe enquanto me afastava triunfante, com o pôr-do-sol, mas sem sol.
|| Æmitis @ 03:23 ...:::

sexta-feira, março 25, 2005

DISCLAIMER

Para o caso de terem algumas dúvidas, eis que surjo eu numa noite sem nevoeiro para vos tirar esse peso da consciência.

Eu e o Æmitis não estamos chateados um com o outro nem nunca estivemos. O nosso problema está sobretudo relacionado com a perversão do mundo actual e com a forma como as nossas mentes (não) se têm desenvolvido nos últimos anos. As nossas capacidades motoras também estão diminuidas. Se repararem com atenção, eu não vejo bem algumas das teclas que pressiono para escrever palavras tão maravilhosas como "berbigão".

No entanto, tanto (ó bela cacofonia!!!) eu como ele comprometemo-nos convosco, caros e estimados leitores. É um compromisso para a vida, amigos! É um compromisso marcado pelo sangue de milhares de soldados inimigos que tentaram travar esta nossa (e vossa, snif!) épica batalha.

Amamo-vos. E amamo-ne-le-tos.

Não confundir com amuletos. Até porque nunca seria verosímil. Não confundir com vasilhame.
|| Filipe Marques @ 01:26 ...:::

segunda-feira, dezembro 06, 2004

DESENCRIMINAÇÃO HOMEMFÓBICA DOS ENDIVÍDIDUOS AUTONÓMONOS PLENOS DE INTREGUEIDADE

"Ser homossexual é gay... Todos os homens que gostam de sexo anal e de fazer felácios são paneleirões... mas eu não tenho nada contra, a sério que não, alguns dos meus melhores amigos são homossexuais, acho... (falamos muito pouco sobre essas doenças). Aceito que cada um pode ser aberração da forma que entender e que muitos deles tenham tido infâncias difíceis. Acho que se devem poder casar, mas nunca um com o outro. Apoio o casamento gay intercruzado com o casamento normal, assente numa cadeia de traições, jogos psicológicos e permutas de vaselina. A adopção é algo muito bom, porque existem muitas crianças sozinhas neste mundo que só querem algum amor. Eu sei que isto não tem nada a ver com estes mariconços, mas achei bonito dizê-lo.
Sinceramente, aceito e convivo com todo e qualquer homossexual... excepto se forem bichonas de merda."

Ass: Bifinhos de Seitã com Cogumelos Chineses (óptimos para descongestionar e facilitar o coito)
|| Æmitis @ 21:23 ...:::
O CONGUITO TAMBÉM É HUMANO

Se há coisa que me irrita é que me deturpem a infância. Num destes dias, entrei numa das lojas de conveniência espalhadas pela 2ª Circular e deparei-me com algo que, francamente, perturbou aquilo que de mais interno, profundo e possivelmente recalcado, há em mim. Ao lado de barras de Lion, por cima do Twix e por baixo do Kit Kat, estavam expostas variadas embalagens de Conguitos. Até aqui tudo bem, eu simplesmente adoro aqueles amendoins tostados cobertos com delicioso chocolate, mas após uma observação mais atenta e com bastante menos gula, deparo-me com um novo símbolo dos Conguitos: ao invés de ter uma lança primitiva na mão, como todos os simpáticos canibais africanos, então não é que o sacana do conguito estava com o cabrão do polegar esticado! Filho da puta! Qual é a intenção? Transformar aquele simpático e castanho africano numa mera personagem fictícia feita de chocolate? Sim, de facto, quando olho para um boneco rechonchudo e careca, com os lábios vermelhões e salientes a primeira coisa que me lembro é uma personagem feita de chocolatinho de leite. Por favor, durante anos foi um canibal, agora é um chocolatinho. Mais, cada esfera castanha tinha a cara do Conguito... incrível... Estes espertalhões do marketing moderno retiraram o canibalismo à personagem e colocaram-no no consumidor. Obrigado! Agora não só tenho um verdadeiro símbolo da minha infância adulterado como ainda tenho que pensar em canibalismo enquanto estou a cagar fininho porque tinha necessariamente que comer todos os pedacinhos de focinho daquele “não-canibal-não-africano”.
Como se tal não bastasse, reparo, numa outra prateleira, algo que me chocou ainda mais. Os sacanas do “politicamente correcto” de certeza que tiveram mão nisto, pois encontrei aquilo que considero uma verdadeira aberração da natureza humana, logo a seguir aos joanetes e ao hálito matinal das prostitutas do Monsanto: Conguitos BRANCOS!!! Eu desisto… não sei mais que dizer… já não bastava os coitados dos albinos terem uma incidência altíssima de ceratose actínica, epiteliomas e melanomas, e vêm agora estes apologistas da igualdade racial do amendoim coberto de chocolate acentuar as suas desvantagens genéticas. Muito obrigado mais uma vez por me darem a escolher entre aberrações da natureza e pseudo-canibais de polegar levantado. Porque não vão pegar no Avô Cantigas e mandá-lo para a Quinta das Celebridades? De certeza que faria sucesso entre as vacas, os porcos, as galinhas e os gafanhotos ciclistas.


PS: Se como eu, se sentem verdadeiramente constrangidos e indignados com a presente situação dos Conguitos, por favor dirijam-se a Conguitos e manifestem-se. A AAA (Associação de Albinos Anónimos) está do nosso lado, assim como o MACACO (Movimento de Auxílio Corporativo Activo ao Conguito Olvidado). Juntos poderemos recuperar os valores coloniais e combater esses paneleiros liberais que querem esquecer os gloriosos dias do império lusitano dos chocolatinhos e outras guloseimas.
|| Æmitis @ 21:18 ...:::

segunda-feira, novembro 29, 2004

OS ANÚNCIOS DO PINGO DOCE

Quero dar os meus parabéns aos senhores do marketing do Pingo Doce por contratarem tantos deficientes para os diferentes anúncios. Tanto a área dos produtos de higiente, como a da charcutaria saiem altamente bem vistas, com tamanho profissionalismo por parte dos senhores e senhoras que ouvimos a dizer "E não é uma promoção. São os preços sempre baixos do Pingo Doce."

Mas podia ser pior, não? Se fossem pretos.
|| Filipe Marques @ 01:19 ...:::

terça-feira, novembro 16, 2004

O SEGREDO PARA TORNAR A SUA VIDA MAIS DIVERTIDA:

- Arranje amigos anões.
|| Æmitis @ 17:59 ...:::

segunda-feira, novembro 15, 2004

É SEMPRE A MESMA COISA. SEMPRE ATRASADOS. JÁ VAI PRA MAIS DE UM QUARTO D'HORA QUE ESTOU AQUI À ESPERA.

Eu também tenho uma história que envolve essas pessoas a quem nós fazemos: “ohhhhh… coitadinho”.

Estava eu na paragem de um daqueles autocarros amarelos (digo autocarros como podia dizer camionetas porque para mim é tudo o mesmo o quem não pensa o mesmo só pode ser mariconço) quando um senhor numa cadeira de rodas parou no início da fila. Pôs-se para lá a olhar para os horários das camionetas (digo camionetas como podia dizer autocarros porque para mim é tudo o mesmo o quem não pensa exactamente o mesmo é sem dúvida mariconço) e eu pensei, naturalmente, cá para mim: como é que este indivíduo (politicamente correcto) conseguirá subir para o autocarro? Sei que alguns deles descendem um pouco e tal, mas não o suficiente para se entrar com uma cadeira de rodas. Para que quer alguém com uma cadeira com rodas apanhar uma camioneta, se ele pode muito bem conduzir o seu veículo para onde quer e lhe apetece sem se cansar? (era daquelas cadeiras modernas com joysticks e estofos de pele e o camandro).

Bem, fosse qual fosse o motivo daquela pessoa com valor e dignidade humana inalienáveis (politicamente e filosoficamente correcto) a verdade é que tal nunca descobri. De repente, pareceu-me, os travões daquela geringonça falharam e como a rua era inclinada, cerca de 6º aproximadamente, o sacana do gajo sem pernas começou a ir pela rua abaixo. Sorte a dele, embateu num daqueles caixotes de lixo verdes que estão presos nos postes de iluminação, rodopiou e caiu no meio da estrada (no meio mesmo). O gajo ficou sem dois dentes e a cheirar mal que tresandava, pois naquela zona existe muita prostituta que manda sacos de plástico com dejectos para os caixotes do lixo.
Como é natural, eu comecei a rir-me descontroladamente. Duas senhoras, muito pasmadas com aquilo tudo, mas continuamente inertes (deve ser do reumático) viram-se para mim e dizem:

Senhoras Idosas: Você não tem vergonha? Rir-se da desgraça daquele coitadinho?

Eu: (limpando as lágrimas dos olhos) Desculpe? Não, não tenho. Teve bastante piada admito. Principalmente aquela parte em que os dentes saltaram e ainda sujaram a camisola branca “I Coração Tony” da gaja que estava a ler Tv Mais.

S.I.: Mas já viu que ele não tem pernas, coitadinho?

Eu: Ah, portanto, se ele tivesse pernas já se podia rir, não é?

S.I.: Mas ele não pode andar, seu desavergonhado. Parece que não têm respeito por
ninguém. Eu queria ver se gostava de estar numa cadeira de rodas.

Eu: Pode não ter pernas mas também cai, ora essa. Não anda mas também não apanha pé de atleta nem pisa merda.

S.I.: Seu mal criado!

A conversa estendeu-se mais alguns minutos até que o senhor que sofreu o infortúnio de ficar sem ambos os membros inferiores, já recuperado da queda, regressou até à fila e disse:

Def.: Que merda de punch-line que eu sou.



(ATENÇÃO: Todos os seres humanos são lindos. Não confundir brincadeira e paródia com insensibilidade ou falta de respeito. No decorrer desta história nenhuma pessoa especial sofreu qualquer dano, tanto no corpo como na alma, e as senhoras de idades lindas encontram-se de boa saúde e rijas. Eu própria, e a minha equipa de duendes albinos resgatados do frio e da fome d’África, supervisionámos os acontecimentos aqui descritos. Quero ainda dizer que aquele corajoso ser humano é, na verdade, um bonito punch-line. Força amigo. Ass: C.C.Lindas.)
|| Æmitis @ 18:44 ...:::
I HAVE A DREAM...

Sentado na areia branca e suave enquanto o sol desce em direcção ao mar, penso em reviver momentos passados.

Ou não. Já repararam no quão ridículo é recorrer sempre à mesma imagem para tentar desenhar figuras diferentes? É só chato. Está bem, talvez seja um pouco foleiro também.

A areia nunca faz comichão nos sítios em que costuma atacar.

Nunca está frio o suficiente para me lembrar de sair daquela areia fofinha e tudo o resto.

O pôr-do-sol é sempre perfeito.

Nunca há um gang que nos assalta nesse belo fim de tarde.

A nossa alma gémea está ali... ou no pensamento. Não podemos pensar em couves ou em fichas de casino... claro que não. Temos de estar com olhar pensativo e com um ar fotografável.

Ora muito bem, sim senhor.

Imaginem então um tipo com “síndrome de Down”. Pensei nele a olhar de forma pensativa para o horizonte longínquo num pôr-do-sol romântico.

Pois.

É isso mesmo.
E há outros casos.

Depois, há um problema quase existencial: qual o momento exacto em que me devo levantar e ir embora?

1 - Antes do pôr-do-sol? Seria um pouco mais estúpido do que escrever “Sentado na areia branca e suave enquanto o sol desce em direcção ao mar, penso em reviver momentos passados.”

2 - Durante o pôr-do-sol? Sacrilégio.

3 - Após o pôr-do-sol? Muito escuro. Rochas.

4 – Não ir embora e transformar-me num monstro anfíbio peludo? I rest my case.


Enfim, seria mais fácil se, durante os minutos em que decorre esse fenómeno sobrenatural, romântico-paneleiro e místico, ficassem em casa a arrotar e a ver a bola. E se quisessem pensar na gaja ou no gajo das vossas vidas, podiam fazê-lo no conforto do lar.
|| Filipe Marques @ 17:39 ...:::